segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Memória e Envelhecimento


O envelhecimento é acompanhado de grandes desafios aos profissionais da saúde envolvidos no cuidado do idoso. Um ponto crucial no olhar de quem cuida é saber diferenciar quais alterações são decorrentes do envelhecimento normal (senescência) e quais alterações são secundárias ao envelhecimento patológico (senilidade).

O público leigo por muito tempo e ainda hoje considera a perda de memória patológica como algo normal do envelhecimento. As pessoas referem-se a idosos com queixas de esquecimento patológico com naturalidade como se não houvesse nada a ser feito com relação ao seu cuidado. São os “esclerosados”, termo pejorativo e muito utilizado no nosso cotidiano.

É claro que o impacto da perda de memória é diferente nas diversas fases do envelhecimento. Este impacto é diretamente proporcional ao grau de funcionalidade do indivíduo e o quanto ele é autônomo e independente. Explico: A perda de memória patológica em um senhor de 60 anos de idade que ainda trabalha e é responsável por prover uma família pode ter uma repercussão que é claramente diferente da de um senhor de 90 anos com muitas doenças crônicas, limitado funcionalmente por conta de dores articulares e que tem um parente que assumiu todas suas responsabilidades. O primeiro tende a gerar uma angústia nas pessoas do seu convívio muito grande, especialmente pelo impacto social desta perda de memória e a dificuldade com seus afazeres diários. O sustento da família passa a ser posto em risco. Já no segundo caso, a dependência prévia deste paciente faz com que a queixa seja menos impactante para sua família e pode ser encarada como algo natural e não passível de avaliação específica, o que considero um grande erro.

Esses dois perfis de pacientes merecem uma avaliação minuciosa do que está se passando com sua saúde, independente de tais características.

É esperado no envelhecimento uma perda na capacidade de memorização e no seu rendimento. O alerta fica para quando estas perdas começam a influenciar negativamente as atividades do cotidiano de forma a trazer claro prejuízo para a pessoa e aqueles que estão envolvidos.

Existem diversas causas patológicas para a perda de memória e a Doença de Alzheimer é apenas um exemplo (o mais impactante sem dúvida). Mas sabemos que deficiências vitamínicas, hormonais e até transtornos do humor como depressão também representam possibilidades diagnósticas.

O que é fundamental é criarmos uma mentalidade de não mais ignorar tais sintomas e sempre que possível sugerir a avaliação de um especialista no assunto, independente da faixa etária e de condições sociais.

Geriatras, Psiquiatras e Neurologistas são as especialidades médicas aptas a fazerem esta avaliação.

Os idosos e as suas memórias a serem preservadas agradecem.

POR MARCELO ALTONA




















-Geriatra especialista pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e Clínico Geral pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica;
-Médico do Hospital Israelita Albert Einstein;e
- Médico Assistente do Serviço de Geriatria e Gerontologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Consultório: Rua Iguatemi, 192, cj 43/44, tel: 3168-2130
www.agingcare.com.br

Um comentário:

  1. Muito bom o texto e esclarecedor. Há uma aceitação geral não só em relação a perda da memória patológica em idoso mas também em relação a depressão. Depressão e envelhecimento não precisam caminhar de mãos dadas, como acreditam alguns.

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